Norma Borlaug

Norman Borlaug: o homem que fez brotar a paz em meio à fome

publicidade

Por Rodrigo Sergio Garcia Rodrigues 

Em uma época em que o mundo via a fome como um destino inevitável de povos inteiros, um homem solitário, com um chapéu gasto e botas cobertas de poeira, atravessava os campos áridos do México sob um sol inclemente. O nome dele: Norman Ernest Borlaug, o cientista norte-americano que desafiou governos, a vaidade de pesquisadores e as próprias leis da natureza para provar que o alimento é a base da paz.

Nascido em 1914, em uma pequena fazenda no estado de Iowa, Estados Unidos, Borlaug cresceu em meio à Grande Depressão, quando o pão era contado e o desperdício era pecado. A dureza da vida no campo moldou seu caráter. Desde cedo, compreendeu a força da terra e o valor do alimento — uma lição que levaria consigo para mudar o destino de nações inteiras.

O início no México: suor, ciência e esperança

Na década de 1940, enquanto a Segunda Guerra Mundial deixava rastros de destruição, o México enfrentava uma crise silenciosa: a fome. As colheitas de trigo eram devastadas por pragas e doenças, e a produtividade era baixíssima. Convidado pela Fundação Rockefeller, Borlaug foi enviado ao país para liderar um programa de melhoramento genético de plantas.

Mas ao contrário de muitos pesquisadores da época, que preferiam o conforto dos laboratórios e o ar-condicionado das universidades, Borlaug foi para o campo. Dormia em barracos, trabalhava lado a lado com agricultores, aprendendo com eles e enfrentando, de botas e enxada, os mesmos desafios.

Leia Também:  Moraes pede parecer da PGR sobre reforço policial na casa de Bolsonaro

“Não se cria um trigo resistente com as mãos limpas”, dizia.

Foi ali, no calor e na poeira mexicana, que ele desenvolveu o chamado “super trigo” — variedades híbridas capazes de resistir a doenças e produzir até quatro vezes mais grãos. O resultado foi uma revolução agrícola que tirou o México da escassez e, mais tarde, se espalhou pela Índia e pelo Paquistão, salvando centenas de milhões de vidas.

A vaidade dos poderosos e a resiliência do homem simples

O sucesso de Borlaug não veio sem resistência. Enfrentou a vaidade de governantes, a inveja de colegas pesquisadores e a burocracia de instituições que duvidavam de suas técnicas e da própria viabilidade de uma “revolução verde”.
Enquanto alguns o chamavam de sonhador, ele respondia com trabalho. Não procurava prestígio — queria resultados.

Em seus diários, Borlaug escreveu:

A ciência não é um trono, é uma enxada. E o cientista deve aprender a sujar as mãos.”

Essa obstinação fez dele uma figura quase lendária. Nas aldeias rurais da Ásia, camponeses o recebiam como um salvador. Na ONU, foi chamado de “o homem que salvou mais vidas na história da humanidade”.

O prêmio Nobel e a frase que virou legado

Em 1970, Norman Borlaug recebeu o Prêmio Nobel da Paz, reconhecimento não apenas por sua contribuição científica, mas por sua visão humanista. Durante o discurso em Oslo, proferiu uma das frases mais poderosas já ditas sobre o tema:

Leia Também:  ‘Lei Antimáfia’: propostas de Lewandowski estão em fase final de elaboração

“Não há paz no mundo de barriga vazia.”

Para Borlaug, a fome era o combustível dos conflitos, e a agricultura, a verdadeira ferramenta da paz.

Do México ao Cerrado: ecos da Revolução Verde

O trabalho de Borlaug inspirou gerações de agrônomos e cientistas. No Brasil, sua filosofia encontrou eco nos pesquisadores da EMBRAPA, que enfrentaram o ceticismo de muitos e transformaram o Cerrado — antes considerado “improdutivo” — em uma das regiões agrícolas mais produtivas do planeta.
Assim como Borlaug, esses “heróis da terra” acreditaram na ciência aplicada ao campo, sob o sol, entre as lavouras, e não apenas nos papéis e laboratórios.

Hoje, milhões de produtores brasileiros colhem os frutos dessa persistência: soja, milho, trigo e alimento em abundância, exportados para o mundo.

Um legado que germina

Norman Borlaug faleceu em 2009, aos 95 anos, deixando um legado que ainda floresce a cada safra. Seu trabalho provou que ciência e compaixão podem caminhar lado a lado, e que o conhecimento, quando usado com propósito, é capaz de mudar o destino da humanidade.

Mais do que o “pai da Revolução Verde”, Borlaug foi o arquiteto silencioso da paz através da agricultura.
Em tempos de escassez, conflitos e desigualdade, seu exemplo continua a ecoar — como um lembrete de que, antes da paz, é preciso plantar o pão.

COMENTE ABAIXO:

Compartilhe essa Notícia

publicidade

publicidade