Por Rodrigo Rodrigues
Antes de se tornar um dos nomes mais icônicos da música pop mundial, Neil Tennant era um crítico. Um observador do mundo musical britânico, daqueles que ouviam, avaliavam, julgavam — e escreviam sobre o que os outros faziam. Trabalhou como jornalista e editor na Smash Hits, uma das revistas musicais mais influentes dos anos 1980. Mas em vez de permanecer eternamente na confortável posição de quem analisa o trabalho alheio, Tennant deu um passo que poucos têm coragem de dar: decidiu mostrar como se faz.
Em parceria com o engenheiro e tecladista Chris Lowe, formou o Pet Shop Boys — uma dupla que não apenas redefiniu o pop eletrônico, mas também o transformou em ferramenta de reflexão, crítica social e questionamento cultural.

Do julgamento à criação
A transição de Tennant de crítico a criador é mais do que uma simples mudança de carreira — é uma lição de vida. Ele percebeu o que muitos de nós relutamos em admitir: é fácil apontar falhas, julgar erros e zombar das tentativas dos outros. Difícil mesmo é colocar-se à prova, arriscar-se a ser julgado.
Tennant fez exatamente isso. Saiu do conforto do comentário para o campo de batalha da criação artística. E, ironicamente, ao fazê-lo, passou a ser julgado pelos mesmos críticos que um dia estiveram do outro lado de sua caneta. A diferença? Ele estava produzindo algo novo — e grandioso.

Pet Shop Boys: o pop com cérebro
O Pet Shop Boys nasceu em Londres, em 1981, e rapidamente se destacou pela mistura única de música dançante, ironia e inteligência. As letras de Tennant eram muito mais do que versos sobre amor e festa: eram observações afiadas sobre a hipocrisia, o poder e o comportamento humano.
Com hits como “West End Girls”, “It’s a Sin”, “Opportunities (Let’s Make Lots of Money)” e “Domino Dancing”, Tennant e Lowe criaram uma estética que misturava o brilho das pistas de dança com o peso da crítica social.
• Em “It’s a Sin”, Tennant exorcizou sua criação católica rígida, transformando culpa e repressão em um hino libertador. A letra é uma confissão irônica, quase teatral, sobre o peso do pecado imposto pela religião — um tema ousado para o pop dos anos 1980.
• Já em “Opportunities (Let’s Make Lots of Money)”, ele expôs, com sarcasmo britânico, o cinismo do capitalismo e da ambição desmedida. A canção, de batida irresistível, foi muitas vezes interpretada como celebração do sucesso, mas na verdade é uma sátira brilhante.
Essas canções provaram que a música pop podia ser divertida e profunda. Que se podia dançar e pensar ao mesmo tempo — algo que Tennant e Lowe fizeram como poucos.

O exemplo que vale mais que mil críticas
A trajetória de Neil Tennant nos deixa uma mensagem poderosa: criar é mais transformador do que criticar.
Enquanto muitos permanecem no papel de observadores — julgando o esforço dos outros, condenando tentativas, rindo de fracassos — Tennant preferiu mostrar como deve ser feito.
Ele nos ensina que a verdadeira coragem está em sair da arquibancada e entrar no jogo. Em colocar o próprio nome, a própria arte e as próprias ideias à prova.
E, ao fazer isso, Tennant não apenas construiu uma carreira de sucesso internacional — ele criou um legado que inspira gerações.

Um artista que pensa com ritmo
Com mais de quatro décadas de carreira, dezenas de álbuns e milhões de discos vendidos, o Pet Shop Boys continua sendo uma das duplas mais respeitadas da música mundial.
Mas, mais do que isso, Neil Tennant permanece como um símbolo da inteligência no pop, provando que é possível unir crítica, humor, empatia e ritmo em um só corpo de obra.

Ele é, afinal, a prova viva de que a crítica mais poderosa é aquela que vem acompanhada de ação.
“Ao invés de apontar o que está errado, faça você o certo.”
Essa é, talvez, a verdadeira letra escondida por trás de todas as canções de Neil Tennant.






























