Por Rodrigo Rodrigues
O Evangelho de Mateus, no capítulo 7, contém uma das mais contundentes advertências de Jesus, dirigida não apenas aos seus discípulos, mas a todos os que buscam viver a fé com autenticidade. No coração do Sermão da Montanha, ele fala sobre os falsos profetas – pessoas que aparentam santidade, mas que por trás de uma fachada piedosa escondem intenções perigosas. A célebre imagem usada por Cristo — “lobos em pele de ovelha” — tornou-se um símbolo universal da hipocrisia religiosa e do perigo da manipulação espiritual.

O contexto: Sermão da Montanha
O Sermão da Montanha (Mateus 5 a 7) é uma coletânea de ensinamentos que estabelece os fundamentos da vida cristã. Nele, Jesus propõe uma moral que vai além da letra da lei, focando na intenção do coração. É dentro deste cenário de exigência ética e espiritual que surge a advertência sobre os falsos profetas (Mateus 7:15-20).
Jesus não fala de inimigos externos, como romanos ou perseguidores políticos, mas de figuras dentro do próprio ambiente religioso — líderes, mestres ou pregadores que, em vez de conduzir a Deus, desviam o rebanho.

A metáfora do lobo em pele de ovelha
A imagem é poderosa:
•A ovelha representa inocência, docilidade e fragilidade — uma figura usada para simbolizar o povo de Deus.
•O lobo, em contraste, é símbolo de ameaça, voracidade e destruição.
•O falso profeta, portanto, é aquele que se reveste de aparência bondosa, piedosa, mas cujo interior guarda intenções de exploração, engano e poder.
Cristo alerta que a sedução desses falsos mestres não está na hostilidade aberta, mas justamente na aparência enganosa de
espiritualidade.

“Pelos frutos os conhecereis”
A chave dada por Jesus para discernir quem é verdadeiro ou falso é a obra concreta. Palavras podem ser belas, gestos podem ser teatrais, mas é no resultado — nos “frutos” — que se revela a natureza da árvore.
Um falso profeta pode:
•falar em nome de Deus, mas promover divisão, medo ou culto à própria imagem;
•proclamar piedade, mas agir com cobiça ou vaidade;
•aparentar pureza, mas alimentar injustiças e abusos.
Já o verdadeiro mensageiro de Deus gera frutos de paz, solidariedade, justiça, humildade e amor.

A denúncia contra o poder religioso corrupto
O ensinamento de Jesus tem também um caráter profético e político. Nos tempos bíblicos, o título de “profeta” era usado para aqueles que se apresentavam como porta-vozes de Deus. Mas a história de Israel conheceu tanto profetas autênticos — como Isaías, Jeremias, Amós — quanto falsos profetas, que bajulavam reis, justificavam injustiças e manipulavam o povo em nome da religião.
No século I, líderes religiosos buscavam prestígio e lucro através da fé. Jesus denuncia esse mecanismo e, de forma atemporal, alerta contra toda forma de mercantilização da religião.

Atualidade da mensagem
Dois mil anos depois, o alerta de Mateus 7:15-20 continua de enorme relevância. Em todas as épocas, líderes religiosos ou políticos podem se apresentar como defensores da moral, da pátria ou até da fé, mas suas ações revelam intenções contrárias ao bem comum.
•Igrejas que enriquecem às custas da pobreza dos fiéis;
•Pregadores que usam o medo e a culpa como instrumentos de manipulação;
•Políticos que instrumentalizam símbolos religiosos para conquistar votos.

Esses fenômenos são exemplos contemporâneos de lobos em pele de ovelha.

O ensinamento de Mateus 7 é claro: não basta ouvir palavras bonitas ou ser impressionado por uma imagem de piedade. É preciso discernir. A espiritualidade verdadeira se reconhece pelos frutos que gera: justiça, compaixão, humildade e amor.
O alerta de Jesus, portanto, é tanto um chamado à vigilância contra falsos líderes quanto um convite a cada pessoa examinar a si mesma: quais frutos minha vida produz?
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