Mariângela Hungria

Mariângela Hungria: a cientista da EMBRAPA que tranformou o solo brasileiro em um labolátorio de inovação susntetável

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Por Rodrigo Rodrigues

Por décadas, o nome Mariângela Hungria se tornou sinônimo de pesquisa, inovação e sustentabilidade dentro da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Reconhecida mundialmente como uma das maiores especialistas em microbiologia do solo e fixação biológica de nitrogênio, Hungria foi pioneira em mostrar que o futuro da agricultura brasileira não depende apenas de fertilizantes químicos, mas da força invisível dos microrganismos que vivem sob nossos pés.

Da curiosidade à ciência aplicada

Nascida em São Paulo, Mariângela Hungria formou-se em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP) e fez doutorado em Ciências Biológicas (Microbiologia Agrícola) pela mesma instituição. Desde cedo, interessou-se pelo papel das bactérias e fungos na fertilidade do solo e na nutrição das plantas. Essa curiosidade a levou, ainda jovem, à EMBRAPA — onde construiu uma carreira que ultrapassa quatro décadas de dedicação à pesquisa.

Na EMBRAPA Soja, em Londrina (PR), Mariângela consolidou um dos mais importantes programas de biotecnologia agrícola do país. Suas pesquisas ajudaram a reduzir drasticamente o uso de adubos nitrogenados — caros e poluentes —, substituindo-os por inoculantes biológicos que aproveitam a capacidade de bactérias de fixar o nitrogênio do ar diretamente nas raízes das plantas.

O poder invisível das bactérias

Hungria sempre defendeu que o solo é um organismo vivo. Com sua equipe, ela isolou e testou milhares de cepas bacterianas capazes de beneficiar diferentes culturas agrícolas. Uma das grandes conquistas de seu grupo foi o desenvolvimento de inoculantes para soja, feijão e milho, que hoje são utilizados em milhões de hectares no Brasil e em outros países.

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Esses inoculantes, que contêm microrganismos como Bradyrhizobium japonicum e Azospirillum brasilense, permitem que o agricultor reduza — ou até elimine — o uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos, que além de caros, geram gases de efeito estufa e poluem os lençóis freáticos.

Segundo estimativas da EMBRAPA, o uso das tecnologias desenvolvidas sob coordenação de Hungria economiza bilhões de dólares por ano à agricultura brasileira, além de evitar a emissão de milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera.

Reconhecimento nacional e internacional

O trabalho de Mariângela Hungria ultrapassou fronteiras. Ela é autora de centenas de artigos científicos, livros e capítulos de referência internacional, e figura entre os pesquisadores brasileiros mais citados do mundo na área de ciências agrárias e biológicas.

Em 2020, recebeu o Prêmio Cientista do Ano da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), além de diversos reconhecimentos da ONU e de organizações internacionais ligadas à agricultura sustentável.

Foi também uma das cientistas brasileiras indicadas ao Prêmio Nobel da Paz, dentro do grupo de especialistas que contribuíram para práticas agrícolas sustentáveis e mitigação das mudanças climáticas.

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Uma voz firme em defesa da ciência

Além da pesquisa de ponta, Hungria é uma defensora intransigente da ciência pública e da inovação nacional. Em entrevistas e palestras, alerta sobre o perigo da dependência tecnológica e do descaso com a pesquisa básica. Para ela, investir em ciência é investir na soberania alimentar e no futuro do país.

“A agricultura do futuro será biológica ou não será. Precisamos entender que o solo é um ecossistema vivo, e a vida do planeta depende do equilíbrio invisível que existe debaixo da terra.”

Legado e inspiração

A trajetória de Mariângela Hungria inspira uma nova geração de pesquisadores e cientistas brasileiras que veem na biotecnologia uma ferramenta de emancipação ecológica e social. Seu legado está nos laboratórios da EMBRAPA, nas lavouras que produzem mais com menos impacto e, principalmente, na consciência de que a ciência e a natureza podem caminhar juntas.

Mariângela Hungria é, sem dúvida, uma das mentes mais brilhantes e influentes da ciência agrícola mundial — e uma prova viva de que o Brasil pode ser potência não apenas em produção, mas também em conhecimento.

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