Marechal Cândido Rondon: o pacificador dos sertões e arquiteto da integração nacional

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Por Rodrigo Rodrigues

Em uma época em que o Brasil ainda era um mosaico de regiões isoladas, separadas por matas densas, rios intransponíveis e culturas diversas, um homem assumiu a missão de conectar o país, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente, em torno de um ideal de unidade e respeito às diferenças. Esse homem foi o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, figura central da história brasileira, cuja trajetória merece ser revisitada não apenas pela grandiosidade de seus feitos, mas pelo exemplo de humanismo e compromisso com o Brasil profundo.

Origens modestas, vocação gigante

Nascido em 5 de maio de 1865, em Mimoso, distrito de Cuiabá (MT), Rondon era descendente de indígenas bororos e cresceu em meio à simplicidade do interior mato-grossense. Formou-se engenheiro militar no Rio de Janeiro, mas nunca se afastou de suas raízes. Ao contrário, fez delas sua missão: integrar o Brasil respeitando as culturas indígenas e promovendo o progresso com inclusão.

A conquista dos fios e das almas

A grande epopeia de Rondon começa com a expansão da linha telegráfica para o interior do Brasil, principalmente a chamada Comissão Construtora de Linhas Telegráficas Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas, entre 1907 e 1915. A empreitada cruzou milhares de quilômetros de florestas, rios e selvas, conectando estados e aproximando regiões distantes do centro do poder. Era mais que infraestrutura: era um projeto civilizatório.

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Por onde passava, Rondon levava o lema que o eternizaria: “Morrer se for preciso; matar, nunca.” Sua postura pacifista e de profundo respeito aos povos originários era inédita para a época. Enquanto o mundo celebrava o imperialismo e a conquista armada, Rondon pregava o diálogo e a convivência. Foi responsável pelo primeiro contato pacífico com dezenas de etnias indígenas, sendo a principal ponte entre esses povos e o Estado brasileiro.

O indigenismo como projeto nacional

Em 1910, Rondon fundou o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), antecessor da atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), defendendo que o Brasil só poderia se afirmar como nação se respeitasse a diversidade cultural dos povos que habitavam seu território. A atuação dele inspirou políticas públicas que, ainda que contestadas e reformuladas ao longo do tempo, lançaram as bases de uma convivência mais equilibrada — ao menos na teoria — entre o Estado e os indígenas.

Sua visão não era romântica nem paternalista. Ele acreditava que os indígenas deveriam ser integrados ao país sem perderem suas identidades culturais, e que o Estado tinha o dever de protegê-los contra a violência, a exploração e o preconceito.

A expedição com Theodore Roosevelt

Rondon ganhou projeção internacional ao guiar, em 1913, o ex-presidente americano Theodore Roosevelt por uma das regiões mais inóspitas da Amazônia, durante a Expedição Científica Roosevelt-Rondon. A jornada explorou o então desconhecido Rio da Dúvida (posteriormente renomeado para Rio Roosevelt) e foi marcada por doenças, perigos naturais e dificuldades extremas. Rondon liderou a missão com habilidade, resistência e humanidade, solidificando sua reputação como um dos grandes exploradores do século XX.

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Reconhecimento e legado

Rondon foi promovido a marechal em 1955 e indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1957 por sua atuação indigenista e humanitária. Faleceu em 19 de janeiro de 1958, aos 92 anos, em plena lucidez, deixando um legado de integração, civilidade e brasilidade.

Em 1958, em sua homenagem, foi criado o Estado de Rondônia, nome que eterniza sua ligação com a região Norte e com os caminhos que ajudou a abrir — tanto geográficos quanto simbólicos.

Rondon no século XXI: ainda atual

Num Brasil ainda dividido por desigualdades regionais, preconceitos étnicos e desafios de integração, a figura de Rondon emerge como farol. Sua vida é uma lição de compromisso público, ética no trato com o outro e amor verdadeiro à pátria.

Num tempo de polarizações, talvez seja hora de redescobrir Rondon — não apenas como herói nacional, mas como inspiração de diálogo, equilíbrio e visão de país.

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