Juscelino Kubitschek

JUSCELINO KUBITSCHEK — O PRESIDENTE QUE FEZ O BRASIL SONHAR

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Por Rodrigo Rodrigues– Edição especial

Por volta das montanhas de Diamantina, em Minas Gerais, nascia em 12 de setembro de 1902 um menino que traria ao país uma das maiores eras de otimismo de sua história. Filho de uma professora e de um caixeiro-viajante, Juscelino Kubitschek de Oliveira cresceu entre a rigidez da educação mineira e o sonho de transformar o Brasil em uma nação moderna. Décadas depois, ele seria chamado pela imprensa de “Presidente Bossa Nova”, símbolo de um tempo de progresso, ousadia e esperança

O menino de Diamantina

A infância foi modesta. O pai morreu cedo e a mãe, dona Júlia, manteve o lar com o magro salário de professora primária. O jovem Juscelino estudava no seminário, mas decidiu trocar o altar pela medicina. Formou-se em 1927 pela Universidade de Minas Gerais.

Trabalhou como médico e telegrafista, conhecendo o país pelas comunicações e pelas dificuldades da população. “Era um homem de temperamento sereno, quase tímido, mas de convicções firmes”, recordaria anos depois o ex-ministro José Maria Alkmin, seu amigo e parceiro político.

Do bisturi à política

Juscelino iniciou sua vida pública como deputado federal em 1934, mas o golpe de 1937, que instaurou o Estado Novo, o afastou do cargo. Voltou com força após a redemocratização.

Em 1940, assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte, onde deixou sua marca. O Conjunto Arquitetônico da Pampulha, projeto moderno de Oscar Niemeyer com jardins de Burle Marx, transformou a paisagem da cidade.

“JK acreditava no futuro como se fosse uma questão de fé”, lembraria Niemeyer décadas depois. “Ele tinha a coragem de sonhar grande.”

Em 1951, foi eleito governador de Minas Gerais, consolidando sua imagem de administrador eficiente. Investiu em estradas, energia e indústria. Foi ali que nasceu o embrião de seu programa nacional: o Plano de Metas.

A conquista da Presidência

A campanha presidencial de 1955 foi uma das mais turbulentas da história republicana. Juscelino enfrentou desconfiança militar e oposição ferrenha da UDN. Seu lema, “Cinquenta anos em cinco”, parecia desvario. “Não se governa com slogans”, ironizou o deputado Carlos Lacerda, seu crítico mais feroz.

Mesmo assim, JK venceu com 36% dos votos — e uma avalanche de apoio popular. Ao assumir em 31 de janeiro de 1956, prometeu “levar o Brasil à modernidade”.

“Tenho consciência de que não posso falhar. Cada minuto perdido é um atraso de décadas para o país”, declarou em seu discurso de posse.

O Plano de Metas e o Brasil sobre rodas

O governo Kubitschek apostou em energia, transporte, alimentação, indústria e educação. Foram 31 metas, que mudaram a paisagem econômica e urbana do país.

Nasciam rodovias como a Belém-Brasília, hidrelétricas, usinas de aço e fábricas de automóveis. A indústria automobilística floresceu, com a chegada de Volkswagen, Ford, Willys e Mercedes-Benz.

“Com Juscelino, o Brasil deixou de ser um país de carroças para virar um país de automóveis”, resumiu o jornalista Carlos Castelo Branco.

O país crescia a taxas de 7% ao ano, mas também enfrentava inflação e aumento da dívida externa. Ainda assim, o otimismo predominava. “O Brasil está em movimento”, dizia o próprio JK — e o povo acreditava.

Brasília: o sonho de pedra e concreto

O ponto culminante de seu governo foi a construção de Brasília, iniciada em 1956 e inaugurada em 21 de abril de 1960. “Levar a capital ao coração do país era unir o Brasil pela geografia e pelo espírito”, explicava Juscelino.

A ideia, herdada da Constituição de 1891, ganhou vida com o traçado de Lúcio Costa e as curvas futuristas de Oscar Niemeyer.

“Construir Brasília é desbravar o futuro”, disse o presidente em 1958.

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A imprensa, entretanto, dividia-se. O jornal Correio da Manhã estampou: “Uma cidade nasce, mas a que custo?”. Já o Jornal do Brasil celebrava: “O sonho de Kubitschek é agora o sonho de um povo inteiro.”

Brasília tornou-se símbolo do Brasil moderno — e do próprio JK, que dizia sorridente: “os pessimista não constroem nada”.

A construção de Brasilia não estava originalmente em seus planos de metas, mas em comício em na cidade goiana de Jatai, foi questionado por dos presentes, Antonio soares Neto, o Toniquinho, que interrompendo seu discurso, fez a pergunta que “mudou o país”: Presidente,  se for eleito vai cumprir a constituição e mudar a capital pra cá, para o planalto central?. Juscelino olhou para seus assessores, chamou um e indagou-lhe: esta na constituição isso?. O assessor confirmou. E ali, naquele momento ele disse: “se esta na constituição então faço aqui a promessa de cumpri-la, se eleito trarei a capital para o planalto central”.  

O preço do progresso

Ao fim de seu mandato, em 1961, o país vivia em ritmo acelerado, mas também com sérios desequilíbrios econômicos. O custo do desenvolvimento seria cobrado nos anos seguintes, com inflação e tensões políticas.

Mesmo assim, JK deixou o Planalto com popularidade invejável e a convicção de ter mudado o destino do Brasil. “O progresso não é uma escolha, é uma necessidade”, afirmou ao entregar a faixa presidencial a Jânio Quadros.

Golpe, exílio e silêncio

Com o golpe militar de 1964, Juscelino foi cassado, acusado injustamente de enriquecimento ilícito. Viveu exilado em Paris e Lisboa, afastado da política, mas acompanhado pelo respeito internacional.

“Não guardo rancor. O tempo fará justiça”, confidenciou a um repórter do Le Monde em 1967.

De volta ao Brasil no início dos anos 1970, JK mantinha-se discreto, mas era recebido com aplausos em cada aparição pública.

O acidente e a despedida

Em 22 de agosto de 1976, a notícia parou o país: Juscelino Kubitschek morria em um acidente de carro na Via Dutra, aos 73 anos. O corpo foi velado em Brasília, a cidade que ele sonhou e ergueu.

Milhares acompanharam o cortejo. O Jornal do Brasil estampou em manchete:

“Morre o homem que fez o Brasil acreditar em si mesmo.”

O legado eterno

Juscelino deixou muito mais que obras: deixou uma mentalidade. Seu governo inaugurou o Brasil moderno, urbano e industrial. Criou símbolos, uniu o país e mostrou que o sonho também é ferramenta política.

“O otimismo também é uma força produtiva”, dizia.

Hoje, Brasília é seu monumento — uma cidade que brotou do nada, assim como a fé que JK depositava no futuro.

“Não tenho medo do futuro. Tenho é pressa de chegar lá.” — Juscelino Kubitschek

Depois da glória, o ostracismo

 

Quando Juscelino Kubitschek deixou o Palácio do Catete em 1961, o país ainda ecoava os aplausos de um ciclo de crescimento sem precedentes. Mas o clima político que se formava seria implacável com o otimismo do “Presidente Bossa Nova”.

Os anos seguintes mergulharam o Brasil em instabilidade, com a renúncia de Jânio Quadros, a crise da posse de João Goulart e o golpe militar de 1964. Kubitschek, símbolo da democracia e da prosperidade civil, passou a ser visto com desconfiança pelos novos donos do poder.

Cassação e exílio

Em 1964, o nome de JK apareceu na lista dos cassados pelo Ato Institucional nº 1. A acusação oficial: enriquecimento ilícito. A verdadeira razão, contudo, era política. O regime militar temia sua influência e popularidade — especialmente entre empresários, trabalhadores e políticos do centro progressista.

“Sou um homem que serviu ao Brasil. E agora me tratam como inimigo da pátria”, disse em carta a um amigo, escrita em Lisboa.

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Expulso da vida pública, exilou-se primeiro em Paris, depois em Lisboa, onde viveu em um modesto apartamento com a esposa Sarah e poucos recursos. Lá recebia visitas de intelectuais, jornalistas e exilados brasileiros.

Um deles, o ex-chanceler Santiago Dantas, relatou:

“Mesmo exilado, JK falava do Brasil com ternura. Dizia que o país ainda precisava acreditar em algo maior do que seus próprios problemas.”

O retorno e o silêncio

Com o passar dos anos, o regime militar começou a ceder à pressão por abertura. Em 1967, Juscelino foi autorizado a retornar. Desembarcou em Brasília, emocionado, e disse aos repórteres:

“Esta é a minha cidade, o meu lar. E sempre será o meu maior orgulho.”

Evitaria a política partidária, mas não o carinho do povo. Em cada aeroporto, em cada auditório, era recebido com aplausos. Tornou-se uma figura moral, símbolo de um Brasil livre que ainda não existia.

Na intimidade, porém, vivia com tristeza. Amigos relatam que sentia solidão e decepção — por ter sido esquecido por antigos aliados e traído por um país que ajudou a modernizar.

“JK era um otimista sem país para sonhar”, escreveria o jornalista Carlos Heitor Cony anos depois.

22 de agosto de 1976 — o fim abrupto

Na tarde chuvosa de 22 de agosto de 1976, Juscelino viajava de São Paulo ao Rio de Janeiro em seu Opala marrom, conduzido pelo motorista Geraldo Ribeiro. Por volta das 18h30, na Via Dutra, o carro colidiu violentamente com um caminhão. Ambos morreram na hora.

O noticiário daquela noite foi curto, seco, mas o impacto foi devastador. O país inteiro chorou.

O Jornal do Brasil trouxe a manchete em letras negras:

“Morre Juscelino — o Brasil perde o homem que ousou sonhar.”

Em Brasília, multidões lotaram a Praça dos Três Poderes para o velório. O corpo foi recebido com honras de chefe de Estado. Niemeyer chorou. Políticos e generais se calaram. O país inteiro parecia em luto.

Mistério na Via Dutra

Logo surgiram dúvidas. Testemunhas relataram movimentos estranhos de veículos próximos, mudanças na cena do acidente e incoerências nos laudos. A ditadura rapidamente encerrou o caso, classificando-o como “acidente automobilístico”.

Mas as suspeitas persistiram. Anos depois, em 2000, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados reabriu a investigação, diante de evidências de adulteração de provas e do depoimento de peritos independentes que afirmaram:

“As lesões no corpo de JK não condizem com o tipo de colisão descrito.”

Nenhuma conclusão definitiva foi alcançada. O mistério permanece.

O mito que sobreviveu ao tempo

Décadas depois de sua morte, Juscelino segue sendo uma das figuras mais queridas da história nacional. Nenhum outro presidente brasileiro conseguiu reunir tanto carisma, otimismo e senso de grandeza.

O arquiteto Oscar Niemeyer, seu parceiro de sonho, resumiu assim:

“Juscelino era mais que um político — era um poeta da ação.”

Em 1981, os restos mortais de JK foram trasladados para o Memorial JK, em Brasília, projetado por Niemeyer. A estrutura branca e elegante parece apontar para o céu — um símbolo perfeito do homem que quis elevar o país acima de seus próprios limites.

A herança

De todas as frases que deixou, talvez nenhuma defina melhor seu espírito do que esta:

“O futuro não se adia. Ele se constrói.”

 

Juscelino Kubitschek acreditava no poder do sonho, na energia da juventude e na força criadora do povo brasileiro. Morreu cercado de mistério, mas sua memória é cristalina: ele foi o presidente que ensinou o Brasil a acreditar em si mesmo.

 

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