Plano real

Itamar Franco: O Pai Esquecido do Plano Real

Apesar de Fernando Henrique colher os louros, foi Itamar quem gestou e bancou o plano que mudou a economia brasileira. A história deve a ele o reconhecimento que nunca veio.

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Apesar de Fernando Henrique colher os louros, foi Itamar quem gestou e bancou o plano que mudou a economia brasileira. A história deve a ele o reconhecimento que nunca veio.

Por Rodrigo Rodrigues

Quando o Brasil finalmente venceu o fantasma da hiperinflação, em 1994, os créditos foram, quase automaticamente, direcionados a Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda e candidato à presidência. Desde então, o Plano Real passou a ser associado à figura de FHC e ao PSDB. No entanto, os registros históricos, documentos oficiais e depoimentos de envolvidos na equipe econômica revelam um outro protagonista: o então presidente Itamar Franco.

Discreto, nacionalista e avesso aos conchavos políticos tradicionais, Itamar não apenas autorizou a formulação de um plano econômico ousado – que previa a criação de uma nova moeda, o real – como também resistiu às pressões políticas e empresariais que poderiam ter enterrado a proposta antes de nascer.

Um governo de transição com coragem

Assumindo o cargo após o impeachment de Fernando Collor em 1992, Itamar herdou um país mergulhado em instabilidade política e inflação crônica, que corroía salários e corroía a esperança da população. Em vez de seguir fórmulas prontas ou optar por medidas paliativas, decidiu enfrentar o problema de frente.

Itamar não era economista, tampouco especialista em finanças. Mas tinha o que faltava a muitos políticos: coragem, honestidade e compromisso com o país. Convidou uma equipe técnica altamente qualificada, que incluía nomes como Gustavo Franco, André Lara Resende, Pedro Malan e Edmar Bacha. Coube a essa equipe, sob a batuta de FHC como ministro, desenvolver o plano – mas sob a supervisão e com o aval direto do presidente Itamar Franco.

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O risco político de bancar o novo

O Plano Real foi implementado em etapas: o controle dos gastos públicos, a criação da URV (Unidade Real de Valor) e, finalmente, o lançamento da nova moeda em julho de 1994. Tudo isso exigiu estabilidade política, apoio parlamentar e um presidente disposto a pagar o preço da impopularidade temporária para colher frutos no longo prazo.

E foi exatamente isso que Itamar fez. Enquanto FHC deixava o ministério para se lançar candidato à Presidência, Itamar continuava bancando o plano e garantindo seu cumprimento. Sem seu aval, o Real teria sido apenas mais um projeto fracassado.

Um crédito usurpado

Apesar disso, quando a inflação caiu e o país reencontrou a estabilidade monetária, o PSDB capitalizou os méritos da conquista. FHC venceu as eleições ainda no primeiro turno, impulsionado pelos resultados do plano. Itamar, por sua vez, passou à história como um presidente de transição, frequentemente subestimado por sua aparência tímida e por não ter se alinhado aos grandes grupos partidários.

Décadas depois, diversos economistas, historiadores e jornalistas vêm corrigindo esse erro. Em entrevistas e livros, integrantes da equipe econômica reconhecem que, sem Itamar, o Plano Real não teria sido possível. A biografia oficial do ex-presidente, documentos de época e arquivos do governo comprovam sua importância na construção da maior reforma monetária do país.

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Hora da história fazer justiça

Itamar Franco morreu em 2011, aos 81 anos, sem nunca ter exigido reconhecimento pelo Plano Real. Sua personalidade reservada não o impediu de sentir a injustiça histórica que sofreu. Hoje, em tempos de revisão crítica sobre os rumos do Brasil nas últimas décadas, é essencial resgatar a verdade dos fatos.

O Plano Real teve muitos autores técnicos, um condutor político eficaz como FHC – mas teve apenas um verdadeiro responsável institucional: o presidente Itamar Franco. Cabe agora à história, e ao país, fazer justiça a quem realmente iniciou a virada econômica do Brasi

Frases de Itamar Franco sobre o Plano Real
“Não fui contra o plano, mas a forma como quiseram vendê-lo ao povo.”
“A equipe foi competente, mas foi o meu governo que deu as condições para que ela trabalhasse.”

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