Energia limpa

Excesso de energia limpa atrai mineradores de criptomoedas para o Brasil

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David Allen
Empresas de mineração de criptomoedas estão negociando ativamente contratos com fornecedoras de energia elétrica brasileiras, como a Renova Energia, que se beneficiaria do excedente de energia renovável do país sul-americano sem sobrecarregar a rede nos horários de pico.
Após a gigante das criptomoedas Tether, que anunciou em julho um investimento no país sul-americano, há pelo menos seis negociações para pequenas e médias empresas, além de uma para um projeto maior de até 400 megawatts (MW), disseram pessoas de seis empresas diferentes à reportagem.
Máquinas de mineração que resolvem problemas matemáticos complexos para respaldar transações de criptomoedas têm sobrecarregado redes em vários países. No entanto, no Brasil, onde a mineração de criptomoedas praticamente não existe hoje, elas podem ajudar a resolver um problema crônico de excesso de oferta de eletricidade limpa, que custou às empresas de energia quase US$ 1 bilhão nos últimos dois anos, de acordo com os grupos ABE, Eolica e Absolar, do setor eólico e solar.
A Tether, maior empresa de ativos digitais do mundo, disse que está alavancando sua recente aquisição da Adecoagro  para aproveitar sua energia renovável, como a eletricidade proveniente de usinas de cana-de-açúcar, para abastecer uma operação de mineração de bitcoin no Brasil.
A fornecedora de energia renovável Renova informou à reportagem que está realizando um dos primeiros grandes investimentos no setor de criptomoedas: um projeto de mineração de US$ 200 milhões para um cliente não divulgado no estado da Bahia, no nordeste do Brasil. O empreendimento de 100 MW consiste em seis data centers que serão alimentados por um parque eólico.
“Nosso objetivo é expandir a empresa e entrar em novos mercados”, disse Sergio Brasil, CEO da Renova. “Percebemos que, ao fornecer toda a infraestrutura (para mineração de criptomoedas), estaríamos um passo à frente de nossos concorrentes.”
Os mineradores de criptomoedas podem aumentar ou diminuir rapidamente as operações com base na disponibilidade de energia, fornecendo uma base de consumidores flexível para o excesso de energia sem sobrecarregar a rede durante os períodos de pico de demanda.
O excesso de oferta de energia no Brasil decorre de anos de incentivos governamentais que impulsionaram um boom nos investimentos em energia eólica e solar. Mas o ritmo de desenvolvimento ultrapassou a expansão da infraestrutura de transmissão, e algumas usinas agora desperdiçam até 70% da energia que geram.
“Há muito potencial”, disse John Blount, um dos fundadores da Enegix, uma mineradora de criptomoedas sediada no Cazaquistão, “Tentaremos, de alguma forma, desenvolver data centers móveis”, acrescentou, que seriam conectados diretamente a usinas de energia.
A Enegix está analisando negócios no nordeste do Brasil, a região que sofre com o maior excedente de energia, incluindo o aproveitamento de energia solar e eólica no estado do Piauí.
A Penguin, sediada no Paraguai, um dos maiores centros de criptomoedas do mundo, disse que também está negociando projetos, mas se recusou a compartilhar detalhes.
E a Bitmain da China, uma das maiores fabricantes de equipamentos de mineração, também está explorando oportunidades, de acordo com um executivo que pediu para não ser identificado.

MINEIROS SÃO VISTOS COMO ‘DIAMANTES’

Fornecedores de energia também demonstraram interesse em projetos de criptomoedas. A Casa dos Ventos, parceira da francesa TotalEnergies  sobre energia eólica, e a Atlas Renewable Energy, empresa de investimentos sediada nos EUA, Global Infrastructure Partners (GIP), confirmou suas intenções.
Subsidiária da concessionária francesa Engie no Brasil e a Auren Energia, joint venture entre a Votorantim Energia e a CPP Investments, braço global de investimentos do Plano de Pensão do Canadá, também estão analisando projetos para monetizar sua energia não utilizada, disseram três fontes. As empresas não quiseram comentar.
Os provedores olham “para consumidores como esses como se fossem diamantes”, disse Raphael Gomes, advogado que trabalha em vários projetos de criptomoedas.
As empresas estão avaliando diferentes modelos, incluindo a compra de equipamentos para minerar por conta própria. Na Bahia, a Eletrobras, a maior fornecedora de energia do país, está instalando máquinas de mineração ASIC, juntamente com uma microrrede alimentada por turbina eólica, painéis solares e baterias, para um projeto piloto.
“Queremos entender como funciona esse setor”, disse Juliano Dantas, vice-presidente de inovação da Eletrobras.
O trabalho pode ajudar os provedores de energia a se prepararem para entrar no setor de data center, que o governo brasileiro ainda esta  tentando atrair como estratégia para o crescimento da economia de energia limpa.
Há preocupações quanto ao uso de água pelo setor, já que algumas das regiões com maior quantidade de energia não utilizada também sofrem com secas. O Brasil também enfrenta problemas de infraestrutura e carece de regulamentação para mineração de criptomoedas.
“Fomos atrás de 400 MW — foi como uma jornada de Sísifo, um pouco difícil”, disse Bruno Vaccotti, executivo da Penguin. “Ainda estamos explorando o Brasil, mas não é tão fácil assim.”
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