Em ode à natureza, Nádia Campos lança ‘Mantiqueira’, quarto álbum da carreira.

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Repleto de participações especiais, com destaque instrumental para violas caipiras, cantora mineira celebra uma das regiões mais exuberantes do país e resgata a obra do sertanejo baiano João Bá.

Inquieta e tomada por sublime inspiração, a cantora, compositora e multi-instrumentista Nádia Campos segue a jornada de encantamento pela arte e lança o quarto álbum da carreira, Mantiqueira, um trabalho marcado pela colaboração com diversos parceiros musicais — inclusive um gênio popular “ressuscitado” do outro lado da vida. A voz grave e delicada da artista mineira se soma a refinados arranjos de violas caipiras e violões para louvar uma das mais belas regiões do Brasil, onde montanhas, matas, cachoeiras e culturas ancestrais compõem um mosaico ao mesmo tempo íntimo e festivo.

Em sete faixas e 30 minutos de melodias elegantemente singelas, Mantiqueira apresenta Nádia Campos capitaneando um time de primeira linha para revelar belezas acústicas emocionantes. A abertura vem com a narração de uma breve lenda sobre a origem da serra que dá nome ao álbum — contar histórias poéticas é um dos talentos da cantora. A viola e a voz de Levi Ramiro, um mestre da arte, se juntam à autora da obra para desenhar um cenário tenro e paradisíaco. “Mantiqueira, clima doce. Encantos da natureza. Emoção gerando prantos, são os rios corredeiras. São seus olhos, lindos olhos, da serra que goteja, seguindo no seu caminho para encontrar com o velho mar”, diz trecho da composição assinada também por João Bá.

 

Conexões Brasil adentro

 

Ainda que o tema principal do novo álbum seja a Serra da Mantiqueira, o espírito desbravador de Nádia Campos estabelece conexões para além deste belo território. O resgate da memória do sertanejo baiano João Bá é apenas o primeiro exemplo. Há também menção à cantora e arte-educadora Doroty Marques, personagem atuante na cultura brasileira desde a década de 1960, atualmente residente em Alto Paraíso (GO), na Chapada dos Veadeiros, onde desenvolve trabalho de iniciação artística especialmente voltado a crianças e adolescentes.

Outros compositores presentes no álbum são o paraense Bené Fonteles, autor da faixa Por um fio, e o músico fluminense Luís Perequê, que assina a comovente Sempre viva. Para Nádia Campos, essas presenças agregam especial valor poético ao novo trabalho. “O Bené Fonteles é um multiartista inspiradíssimo, que também viveu um tempo em Pocinhos do Rio Verde (MG). Considero que ele tem uma grande sensibilidade para poetizar a natureza. Amo essa canção dele. Sempre viva é uma das muitas belíssimas canções de Luís Perequê. Quem não conhece a obra dele precisa conhecer”, sentencia a cantora.

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Em vida, como foi sua relação com João Bá? Como vocês se conheceram e como você analisa a obra que ele deixou? Você se sente uma guardiã do legado do João Bá?

João Bá foi um grande amigo e mestre. Entusiasmado com a música, com as artes. Amava o Brasil, a natureza. Trazia seu olhar sensível em uma linguagem universal sem se desconectar das raízes no Sertão baiano. Ele foi um retirante que se adaptou a São Paulo, que se sentia vitorioso por, através da música, correr trecho. Tinha uma sensibilidade única. Era tão conectado com a natureza que podia estar no centro de São Paulo e reconhecer as abelhinhas, as flores, os passarinhos. Sua música traduzia a natureza. Eu tive essa benção de conviver com ele intensamente nos últimos anos de vida. Não sei se posso me considerar guardiã, mas posso dizer que amo cantar as músicas dele por aí! Sinto-me agraciada por essas parcerias com nosso Bacurau Cantante (João Bá).

O que o trabalho em parceria com João Arruda acrescenta a este novo álbum?

O João é um amigo de longa data. Temos influências e gosto musical muito comuns. Há 20 anos compartilhamos palcos, gravações, cantorias, projetos. Somos coordenadores de um festival de violas chamado Festival Pedra Branca de Violas e Sonhos, que este ano está na oitava edição. Registrar essa parceria é importante, principalmente em um álbum que homenageia a região onde mais vivenciamos juntos com outros amigos músicos experiências de partilha tão ricas.

Qual a história por trás do estúdio onde o álbum foi gravado? Como este local contribuiu para a composição da obra? Este estúdio também traz lembranças de João Bá? 

O estúdio VentaMoinho é de João Arruda, fica no meio da natureza, em Pocinhos do Rio Verde (MG), do lado do Sítio da Rosa dos Ventos, criado pelo nosso querido amigo já encantado Carlos Brandão. Lá aconteceram muitos encontros, muita magia, muita arte e trocas. João Bá viveu lá no final da vida.

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Comente o processo de criação da faixa Pequenos voos. Qual foi a inspiração? 

Essa música nasceu de um poema de Carlos Brandão que foi em antropólogo, poeta e educador que sempre apoiou intensamente os artistas. Procurou dar espaço e respiro para o que ele considerava essencial e não tinha muito espaço nesse mundo. Ele partiu em 2023, deixando um legado de sabedoria e muitas saudades. Deve vir nos visitar em pequenos voos de beija-flores.

Qual a importância e como ouvir “a voz do coração”? E que caminhos percorrer após Mantiqueira?

A voz do coração nos faz acreditar no amor, na amizade, na fraternidade, em uma arte feita com verdade e simplicidade, de que um outro mundo é possível em meio a uma civilização que parece não valorizar nada disso. Mantiqueira traz honra e conexão com um lugar. E agora a ideia é circular com esse trabalho e dar vazão a tantos outros que afloram em forma de música.

Você também lançou uma série de vídeos recentes. Por também investir nesse tipo de produção?

O audiovisual é uma linguagem necessária para se comunicar com o público hoje. Tenho uma parceria intensa com meu companheiro Guilherme Melo, que tem uma produtora audiovisual. Graças a essa parceria estamos buscando fazer essa entrega para além da música.

Você demonstra uma certa devoção à América Latina. O Brasil não basta? É preciso se integrar às culturas vizinhas? O que a América Latina tem a contribuir para uma evolução estética brasileira e da humanidade?

Não acho que seja uma questão de se bastar ou não. Acho que vivemos em um mundo com muitas conexões. O que queremos é uma outra globalização, como dizia Milton Santos. Em que haja um intercâmbio entre os povos com respeito às diversidades e não um apagamento da cultura do Sul global e um consumo massificado da cultura estadunidense. A integração cultural do Sul global pode ajudar no enfrentamento aos desafios de uma política internacional imperialista.

 

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