Da editoria JK
Como a desigualdade fiscal pode transformar o cenário eleitoral brasileiro em um embate entre ricos e pobres — e não apenas entre esquerda e direita.
As eleições presidenciais de 2026 caminham para ser mais do que uma disputa entre partidos ou ideologias. Analistas políticos e estudiosos da economia social começam a apontar um novo eixo de polarização: não mais esquerda contra direita, mas pobres contra ricos. A semelhança com o clima pré-Revolução Francesa — quando a desigualdade social alimentou o descontentamento das massas — não é coincidência, mas um sintoma do agravamento das disparidades econômicas e fiscais no Brasil.
Uma carga tributária injusta

No Brasil, o sistema tributário é conhecido por ser regressivo: quanto menor a renda, maior a proporção de impostos pagos em relação aos ganhos. Os mais pobres acabam pagando mais, principalmente por meio de tributos indiretos — como o ICMS embutido em alimentos, roupas e produtos de higiene — enquanto os mais ricos se beneficiam de brechas legais, isenções e privilégios fiscais.
Segundo dados do Instituto de Justiça Fiscal, os 10% mais pobres da população comprometem cerca de 32% de sua renda com impostos, enquanto os 10% mais ricos comprometem menos de 21%. E há casos ainda mais gritantes: bilionários que pagam menos tributos sobre sua renda do que trabalhadores assalariados, especialmente por lucros e dividendos isentos.
revolta silenciosa dos invisíveis
Com a crescente digitalização, a ampliação do acesso à informação e o impacto das redes sociais, a consciência coletiva sobre essas distorções fiscais está se expandindo. Hoje, grande parte da população entende que não se trata apenas de “falta de dinheiro” no Estado, mas de quem está (ou não) contribuindo para o país funcionar.
Nas periferias urbanas e zonas rurais, o discurso anti-elite ganha espaço, mas não necessariamente ligado a um partido político. Trata-se de um sentimento de indignação contra uma estrutura econômica que favorece poucos à custa da maioria. Essa narrativa pode ser explorada por diferentes campos políticos em 2026, tornando a disputa menos ideológica e mais social.
Quem representará quem?
A pergunta que se impõe é: quais candidatos terão coragem de assumir uma agenda de reforma tributária progressiva, que taxe grandes fortunas, heranças e dividendos de forma mais justa? E quais continuarão defendendo os privilégios históricos dos mais ricos sob o pretexto de “proteger o investimento”?
A disputa se tornará, portanto, menos sobre espectros políticos e mais sobre quem está disposto a romper com um modelo que perpetua a desigualdade. E nesse cenário, os eleitores podem não mais se identificar por “direita” ou “esquerda”, mas por “quem paga imposto demais” e “quem quase não paga nada”.
⸻
Conclusão
Assim como na Revolução Francesa, o Brasil pode assistir a um levante democrático onde a desigualdade fiscal seja o estopim de uma nova forma de luta de classes. As eleições de 2026 prometem não apenas decidir quem governa, mas qual modelo de país continuará — ou deixará de existir.




























