Por Bia Azevedo
Enquanto a população enfrenta falta de serviços essenciais, prefeito adota medidas que privilegiam a si mesmo e à máquina política
Rondonópolis vive um momento de indignação popular. O prefeito Cláudio Ferreira, do Partido Liberal (PL), que chegou ao poder com a promessa de combater privilégios e promover uma gestão voltada para os interesses da população, tem seguido um caminho diametralmente oposto ao discurso que o elegeu. Em apenas nove meses de mandato, sua principal marca administrativa não foi a implementação de políticas públicas, mas sim uma série de decisões que beneficiam a si próprio e ao núcleo político que o cerca.
Logo no início da gestão, Ferreira aprovou um gasto milionário em publicidade institucional: R$ 14 milhões em recursos públicos destinados à propaganda da própria administração. Em uma cidade com sérios problemas estruturais — como falta de vagas em creches, precariedade na saúde, insegurança pública e buracos nas vias —, a medida foi duramente criticada por especialistas e pela população, que não vê retorno palpável em serviços básicos.

Mas a decisão que mais revoltou os cidadãos veio em seguida: o aumento de 80% no salário do próprio prefeito. Como se não bastasse, foi criada uma verba indenizatória, mecanismo que, na prática, turbina os vencimentos do chefe do Executivo municipal, elevando sua remuneração a patamares que o colocam entre os prefeitos mais bem pagos do Brasil.
Enquanto isso, Rondonópolis enfrenta uma realidade dura. Faltam medicamentos nos postos de saúde, a fila por consultas e exames cresce a cada dia, bairros inteiros sofrem com a ausência de infraestrutura, e a violência segue em alta. Famílias de baixa renda, que depositaram esperança em uma mudança de postura política, sentem-se traídas.
O caso de Cláudio Ferreira ilustra um fenômeno recorrente na política brasileira: candidatos eleitos com discursos moralizadores e de renovação, que, uma vez no poder, repetem os mesmos vícios que prometeram combater. O discurso de enxugar gastos e priorizar investimentos sociais acaba sendo substituído por medidas voltadas para o autoprotecionismo e a autopromoção.
A propaganda de R$ 14 milhões, somada ao aumento salarial e às verbas indenizatórias, evidencia a desconexão entre o Palácio da Cidade e a vida real da população. O contraste fica ainda mais gritante diante do cenário de crise econômica que atinge principalmente os mais pobres, que enfrentam dificuldades para pagar contas básicas, enquanto o prefeito assegura para si e para sua gestão uma situação financeira confortável.
No fim, o eleitor de Rondonópolis se vê diante de uma dura constatação: a velha política não foi derrotada, apenas ganhou um novo rosto. E, se nada mudar, os custos dessa escolha continuarão sendo pagos pela população — em impostos altos, serviços públicos precários e uma sensação crescente de descrença nas instituições.


























